quarta-feira, 1 de julho de 2009

Aline Andrade

Pina Bausch e o teatro do inominável.

Olá, meu nome é Aline Andrade, sou professora de teatro e para mal ou para bem vou começar meu blog falando de uma notícia muito triste no mundo das artes: a morte da coreógrafa e bailarina Pina Bausch, diretora, coreógrafa e bailarina. A notícia detalhada segue no link ao final.
Para mim, que tive a oportunidade de assistir seu espetáculo Masurca Fogo em São Paulo, fico agradecida por ter feito isto antes que não fosse mais possível acontecer nesta vida. De fato, foi uma experiência única, que marcou minha forma de pensar teatro, pois de alguma forma, confirmou para mim várias questões sobre o teatro contemporâneo que eu vi concretamente desfilar diante dos meus olhos, e também paradoxalmente, me causou a sensação de: "puxa, depois disto sobra para mim alguma possibilidade de realizar algo realmente original?" Depois disso, eu penso, "Em primeiro lugar, será que há necessidade de se fazer algo nos dias de hoje, absolutamente original?". Penso que há um entrelaçamento confuso de presente, passado e futuro, de "pós" e "devires", que não atingiram sua maturação ou seu significado pleno para esta época na qual vivemos atualmente e para isto, volto à Pina Bausch e sua dança-teatro: como ela, e vários outros grandes encenadores e criadores (lembre-se internacionais em boa medida, Robert Wilson, Richard Foreman, Tadeusz Kantor, entre outros, já consagrados pela crítica e público, ainda que especializado) tem uma obra rica e reconhecida nos grandes círculos artísticos e intelectuais e paradoxalmente vemos que os elementos renovadores de suas respectivas linguagens ainda encontram-se em boa medida, intraduzíveis, para nossa interpretação, leitura crítica, ou como quer que chamemos. Enfocamos nossa percepção dinâmica sobre aquilo que assistimos e nos emociona, que encontramos às vezes como pérolas da nossa própria produção artística e que não se encontra de nenhuma forma apaziguada. Ainda que o que podemos é farejar elementos de aproximação entre o teatro que realizamos em nosso quintal e o teatro que, apesar de reconhecido, ainda assombra quando propõe elementos conflituosos ou ou dissonantes de linguagem, o interessante é se render à experiência do aqui, agora, em um tempo virtual, real ou fictício, da vivência teatral que não se rende a definições fáceis, ou lugares confortavelmente revisitados. Neste inominável (lembrando Beckett, e também que o lugar do inominável através da linguagem humana é justamente aquilo que a sociedade não encontrou palavras para confirmar o sentido da sua existência), tenho que concordar com as intenções de Hans-Thies Lehmann, ao propor a nomenclatura de pós-dramático para este teatro que busca, nesta época, neste momento, enquanto escrevo este texto, criar um discurso, não completamente original, superando o dramático, mas pós-dramático no sentido de acontecer após a tradição dramática, conforme suas próprias palavras: "O adjetivo 'pós-dramático' designa um teatro que se vê impelido a operar para além do drama, em um tempo 'após' a configuração do paradigma do drama no teatro."(Lehmann,2007). Portanto, não é um teatro que negue ou contraponha-se à tradição anterior, mas que dê voz às diversas vozes dissonantes, que não se encontraram ainda, talvez ainda nem se saibam, mas que ecoam, pulsam e vibram fortemente dentro dos labirintos do teatro contemporâneo. Por isso, agradeço à inspiradora: Pina Bausch!

Bibliografia: Lehmann, Hans-Thies. Teatro pós-dramático. São Paulo: Cosac Naify, 2007. (pág. 33)

Links de notícias:

Masurca Fogo
Notícia Pina Bausch

Obs.: Gostaria de salientar que meus textos tem natureza crítica e livre, não ambicionando propor nenhuma conceituação do ponto de vista técnico ou teórico sobre os artistas ou autores mencionados.

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